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Radiação – onde está o real perigo?

Radiação – onde está o real perigo?

Imagine estar em um campo de batalha onde você não consegue ver o perigo, mas sabe que ele está lá, causando estrago silenciosamente. Esse é o cenário quando falamos sobre a radiação e sua atuação na mutação celular e, consequentemente, no desenvolvimento do câncer.

No entanto, ao mesmo tempo em que a radiação pode ser algo destrutivo, se utilizada para os fins corretos, ela pode ser incalculavelmente benéfica.

Neste artigo, vamos trazer a você uma explicação realista sobre a radiação, desvendar os mitos ao redor do assunto e, também, levá-lo ao entendimento sobre o que realmente é perigoso e o que não é sobre a relação entre a radiação e o câncer.

O que é radiação?

Podemos dizer que radiação refere-se à emissão ou transmissão de energia através de partículas ou ondas eletromagnéticas em um espaço ou material. Esta pode ser classificada em dois tipos principais: ionizante e não ionizante, dependendo da capacidade de alterar a estrutura atômica dos materiais com os quais interage, e também pode vir de fontes naturais ou de fontes criadas pelo ser-humano.

A radiação ionizante possui energia suficiente para arrancar elétrons dos átomos, gerando íons, daí o nome "ionizante". Exemplos comuns deste tipo incluem os raios X e a radiação gama, amplamente utilizados na medicina para diagnósticos por imagem e tratamentos de condições médicas específicas.

Por outro lado, a radiação não ionizante não tem energia suficiente para alterar a estrutura atômica através da ionização. Este grupo engloba as ondas de rádio, micro-ondas utilizadas em telecomunicações e aparelhos domésticos,

A descoberta da radiação nos leva ao final do século 19, quando cientistas como Wilhelm Conrad Röntgen observaram fenômenos que não podiam ser explicados pelas teorias físicas existentes na época. Röntgen, por exemplo, descobriu os raios X em 1895 enquanto experimentava tubos de raios catódicos, uma descoberta que revolucionou não apenas a física, mas também campos como a medicina. Desde então, o estudo da radiação expandiu-se exponencialmente, revelando tanto suas aplicações benéficas quanto seus potenciais perigos.

A radiação no dia a dia

A radiação e a tecnologia evoluíram de forma significativa e lado a lado. Sua aplicação em exames de imagem, por exemplo, trouxe avanços significativos na medicina diagnóstica. Graças à habilidade da radiação em penetrar diferentes materiais, tecnologias como máquinas de radiografias e tomografias computadorizadas permitem hoje que médicos observem detalhadamente o interior do corpo humano, identificando desde fraturas simples até condições mais complexas como tumores e hemorragias internas sem a necessidade de procedimentos invasivos.

Além disso, no campo das comunicações, a radiação tem um papel inegável. O funcionamento de dispositivos que são pilares da nossa conectividade diária, como celulares, redes WiFi e fornos micro-ondas, depende diretamente das propriedades da radiação eletromagnética. Esses aparelhos utilizam diferentes frequências e intensidades de radiação para transmitir informações rapidamente através de grandes distâncias ou para aquecer alimentos de maneira eficiente e segura. Sem os conhecimentos e a utilização da radiação nesses contextos, muitas das conveniências modernas que hoje consideramos essenciais não seriam possíveis.

Como afeta o organismo?

A radiação tem uma interação os organismos vivos ao seu alcance, e essa interação entre radiação e células vivas, se acontece em altos níveis, pode desencadear uma série de eventos moleculares que resultam em danos significativos.

Em casos de exposições elevadas, as células humanas tendem a sofrer alterações em seu DNA, o que potencialmente leva à inibição da divisão celular normal e pode causar mutações genéticas muito associadas ao desenvolvimento de câncer.

Além disso, a exposição intensa à radiação pode resultar em envenenamento por radiação agudo, condição que afeta os sistemas sanguíneo e gastrointestinal e pode ser fatal se não tratada adequadamente e de forma rápida.

Um acontecimento de contaminação por radiação devido à manipulação inadequada de material radioativo que ganhou notoriedade no Brasil foi o Caso Césio 137, em Goiânia – Goiás, no ano 1987.

A radioterapia

Quando utilizada de forma controlada, com conhecimento e para fins benéficos, a radiação pode, inclusive, salvar vidas, e esse é o caso da radioterapia.

Esse procedimento se destaca por sua precisão em direcionar feixes de radiação diretamente às células cancerígenas, minimizando o dano aos tecidos saudáveis ao redor. Durante o tratamento, os pacientes são cuidadosamente posicionados em máquinas especializadas que administram doses específicas de radioterapia. A técnica utilizada pode variar, dependendo da localização, tipo e estágio do câncer.

Os avanços tecnológicos têm permitido melhorias contínuas na radioterapia, tornando-a não apenas mais eficaz, mas também mais segura para os pacientes. Métodos como a radioterapia conformacional tridimensional (3D-CRT) e a terapia de modulação de intensidade do feixe (IMRT) permitem que os feixes de radiação se moldem precisamente à forma dos tumores. Isso maximiza o impacto sobre as células malignas enquanto protege as saudáveis ao redor.

Além disso, há uma constante busca por técnicas ainda mais sofisticadas que possam reduzir os efeitos colaterais e aumentar as taxas de sucesso no combate ao câncer.

Em ambiente de trabalho

Imagine que um paciente vai a uma clínica de imagem realizar um exame de radiografia.

Esse exame não faz mal ao paciente, que o está realizando naquela vez, isoladamente, porém, se observado o lado dos profissionais que acompanham os pacientes, eles não acompanham apenas o exame daquele paciente que mencionamos no parágrafo anterior, mas sim de 10, 20 ou mais pacientes em um mesmo dia. Se multiplicarmos isso por semanas, meses e anos, aquela radiação que trazia risco mínimo em um exame, já se torna um alerta, uma vez que aqueles profissionais acompanharam muitos exames e receberam doses cumulativas de radiação, diferentemente de cada paciente individual que passou por ali.

Por isso, é essencial que seja feito o uso dos equipamentos de proteção (EPI), como os coletes de proteção, e que seja seguido o protocolo de segurança, incluindo a distância do equipamento, de forma a minimizar o risco de problemas de saúde para esses profissionais e profissionais de outros ramos que lidam com radiação.

Mitos

Assim como diversos outros assuntos, a radiação e a radioatividade foram alvos de Fake News e mitos que se propagaram ao longo dos anos, levando medo e desinformação às pessoas, além de fazer com que muitas delas até recusassem exames médicos necessários.

“Exame de Raios-X é perigoso e causa câncer.” – As doses de radiação emitidas em um exame de Raios-X são mínimas, com baixíssima probabilidade de causarem danos à saúde. De acordo com uma pesquisa publicada na Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos, os exames de Raios-X aumentam entre 0,6% a 1,8% o risco de desenvolvimento de câncer em pessoas com a idade de 75 anos ou mais, é uma porcentagem extremamente baixa em relação aos benefícios. Haveria certo perigo, no entanto, caso houvesse o uso desregrado e com uma alta frequência desse exame, por isso, o exame é feito apenas com prescrição médica.

“Tomografia Computadorizada causa câncer.” – Embora a Tomografia Computadorizada emita níveis de radiação bem maiores que a radiografia comum (Raio-X), o seu uso com a devida recomendação médica levando em consideração diferentes pontos, apresenta riscos mínimos à saúde. A TC apenas é realizada quando os médicos consideram necessária para um diagnóstico ou para acompanhamento da progressão de uma doença, sempre levando em consideração os riscos e os benefícios do exame e da frequência com que o mesmo é realizado.

“A radiação permanece no corpo da pessoa após a sessão de radioterapia.” – As sessões de radioterapia não deixam radiação remanescente no corpo, dessa forma, a pessoa não emite radiação para os que estão ao redor, e tem contato com a radiação de forma controlada apenas durante o tempo em que está utilizando o aparelho, tendo, também, o monitoramento de profissionais capacitados.

“Usar aparelho de micro-ondas para aquecer alimentos causa câncer.” – A energia emitida pelo aparelho é do tipo radiação não ionizante, ou seja, não tem a capacidade de causar alterações nas células das pessoas ou animais ao redor. Dessa forma, não é possível que o aquecimento de alimentos em aparelhos micro-ondas leve ao desenvolvimento de câncer.

“Usar celular causa câncer no cérebro.” – Tal como no caso anterior, a radiação emitida pelo celular é do tipo não ionizante, não tendo, assim, a capacidade de levar ao desenvolvimento de câncer.

Certamente, a radiação está presente em nosso cotidiano, nas mais diferentes variações e aspectos, podendo ser utilizada, de forma controlada, para fins benéficos, como na medicina e nas telecomunicações, ou, infelizmente, para fins destrutivos, como nas bombas nucleares.

Entender sobre a radiação, o seu efeito no organismo e a atenção que se deve ter ao lidar com um suposto material radioativo certamente servem de ajuda para a nossa proteção e também para a desmistificação de falsas notícias, assim como para a compreensão de situações e acontecimentos.

Você gostou de aprender sobre esse tema?

Se sim, aproveite para compartilhar esse artigo com quem você conhece e ajudar mais pessoas a entenderem sobre esse assunto!

 

Redação: Thomas Shepherd.

Referências: Manual MSD, Vida Saudável – EinsteinINCA, Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos.

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